Em vários cantos do mundo surgem amantes deste peculiar grupo de plantas. São pessoas que não apenas cultivam as espécies como criam ilustrações, tatuagens, peças de artesanato e estampas inspiradas nelas. Afinal, por que as suculentas estão bombando?
Habitante da cidade de Ithaca, no estado de Nova York, Estados Unidos, o artesão Owen Mann fez do hobby sua profissão: a partir de referências encontradas no Instagram e no Pinterest, ele esculpe suculentas de argila. Aprendeu sozinho, sem fazer curso nem conhecer botânica. “Meu primeiro contato com as suculentas foi na infância. Espremi uma folhinha e vi que saía água de dentro dela. Fiquei maravilhado”, conta.
Em East Ballina, ao norte de Sydney, o australiano Bradd Farrell tem uma empresa de decoração de eventos e, de um dia para o outro, passou a receber encomendas de arranjos feitos com suculentas, hoje o carro-chefe no portfólio da companhia. Uma trilha parecida foi seguida pela estadunidense Susan McLeary, que utiliza suculentas na criação de pulseiras, tiaras, braceletes e outros acessórios de moda. Na Europa Central, a ilustradora ucraniana Oksana Pasishnychenko passou a criar estampas de suculentas para tecidos. O sucesso foi tanto que decidiu mudar-se para a Califórnia, região onde, por questões climáticas, esse tipo de planta é bastante popular.
No Brasil, a onda também chama a atenção. Suculentas passaram a ser vendidas em supermercados, invadiram os arranjos de eventos, buquês de noivas, tornaram-se as queridinhas das varandas e dos espaços internos. Daí voltamos à pergunta do início da reportagem: por quê? Arquiteta, paisagista e estudiosa de botânica, Daniela Ruiz, arrisca interpretações: “Há muitos fatores que explicam o boom das suculentas. Elas são fáceis de cuidar, têm grande apelo estético na decoração e, acima de tudo, provocam baixo índice de frustração”. Isso mesmo: é difícil matar uma suculenta. Por acumular água dentro das folhas, ela resiste a donos que viajam, que trabalham demais e que simplesmente se esquecem delas. Regar demais, em contrapartida, pode pôr tudo a perder. “Quando cuidam de plantas, as pessoas se sentem responsáveis e realmente se aborrecem quando elas não vingam. É muito mais fácil cuidar de suculentas do que de hortas, por exemplo”, explica a profissional.
A paisagista curitibana Lidiane Piekarski, que vive há 15 anos em Brasília, tornou-se especialista em projetar jardins com suculentas e cactos. “As condições naturais da região, onde faz muito calor e chove pouco, são perfeitas para o desenvolvimento das espécies”, diz. “Vejo também uma relação direta entre a arquitetura modernista da cidade e a estética das suculentas. É um casamento que funciona”, completa. Para Paula Csillag, professora de Cor e Percepção do curso de graduação em design na Escola Superior de Propaganda e Marketing em São Paulo, ondas de consumo – como parece ocorrer com as suculentas – refletem valores sociais contemporâneos, como a falta de tempo, o uso racional de água e até a crise econômica. “A ação de influenciadores, como os meios de comunicação e as redes sociais, também colabora para que as pessoas queiram fazer parte do movimento”, explica.
Segundo Daniela Ruiz, há mais de mil espécies de suculentas catalogadas no Brasil. Com formas orgânicas e diversos tons, juntas, formam belíssimas composições. Plantá-las em vasinhos, xícaras, latinhas e cachepôs, além de proporcionar o prazer do trabalho manual, abre caminho para uma deliciosa brincadeira de coleção. Conforme explica a doutora em agronomia Regina de Castilho, do Departamento de Fitotecnia da Universidade Estadual Paulista, campus de Ilha Solteira, interior de São Paulo, da coleção surgem as comunidades. Reais e principalmente virtuais, elas proliferam como espaços onde se trocam informações, experiências e dicas de cultivo. No Instagram há perfis inteiramente dedicados a suculentas. “Eu arriscaria dizer que as suculentas têm um caráter feminino. Assim como homens tendem a se dedicar mais a orquídeas e a bonsais, mulheres se encantam mais facilmente pelas suculentas”, diz a pesquisadora, que conduziu trabalhos de sensibilização e recuperação de pacientes com distúrbios psicológicos por meio da prática de jardinagem.
O empresário Roger Evangelista, que abriu mão da carreira na área de tecnologia para criar a Jardim SP, empresa produtora de terrários, concorda que as suculentas são viciantes. “É impossível ter uma só”, conta. Para Daniela Ruiz e também para Karina Aldredge, que vive em Oregon, nos Estados Unidos e administra o perfil @sacredelements, o aspecto fractal das folhas – padrões que se repetem com perfeição – pode explicar o fascínio pelas espécies. “Comprovadamente, isso traz sensação de bem-estar”, diz a paisagista. Também encanta aos novatos na jardinagem a facilidade de produzir mudas. Uma simples folha brota rapidamente e, em pouco tempo, o jardim está preenchido. Confira abaixo dicas para cultivar suculentas, segundos especialistas.
Fontes: Verbena Flores
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